Uma das vantagens – se é que existe alguma vantagem nisso –
de ter vivido muito tempo é que você leu muitos livros e viu muitos filmes.
Alguns que pareciam esquecidos no baú da memória, de repente ressurgem com a
mesma força que tiveram no passado. Às vezes, basta uma palavra para trazê-los
de volta.
Há pouco, estava pensando em amor e ódio, dois lados da
mesma moeda e me sentia culpado por não saber exercitá-los com a intensidade
merecida e descobria com grande desdouro para a minha biografia, que no amor,
sou cético sobre toda sua profundidade e no ódio, sou incapaz de saboreá-lo com
o gosto devido.
Não quero falar de amor, mas de ódio.
O Pintaúde, que como eu, é um provocador social, tem entre
seus amigos virtuais um cara que mais adiante vou dizer o nome e que entrou
numa polêmica nossa com frases inteligentes e irônicas, de certa forma,
descontruindo uma boutade que eu havia feito.
Não pelo que disse, mas pelo que fez no passado, eu devia
odiar esse cara.
Não só ele, mas muitos outros.
Então, voltamos ás primeiras linhas de texto: as lembranças
do passado.
Lembrei daquele clássico do faroeste Meu Ódio Será Sua
Herança (Wild Bunch – O bando selvagem), que Sam Peckinpah fez em 1969, com
Willian Holden, Ernest Borglne e Robert Ryan.
Em qualquer enciclopédia sobre o cinema, você vai ler que o
filme, ao colocar sua ação em 1913, durante a revolução mexicana, é uma
alegoria sobre o fim de uma era, onde o cowboy era o grande herói e o início de
outra, onde as máquinas de guerra substituíram o cavalo e a winchester.
No youtube você poder ver o filme inteiro (só por favor não
veja na versão dublada), mas eu não vou fazer isso. Prefiro ficar com minhas
lembranças.
E o que elas dizem?
Dizem que temos que exaurir nossos sentimentos até a última
gota.
No caso do filme, os sentimentos são de amizade e de ódio.
E isso, me trouxe ao presente.
Preciso urgentemente voltar a odiar algumas pessoas pelo
que me fizeram no passado ou deixaram de fazer.
Nesse patamar de ódio a ser elaborado, estão aquelas
pessoas que, em algum momento da vida, me impediram de continuar fazendo alguma
coisa que gostava muito.
Por exemplo, professor da Famecos.
Não que fosse um grande professor, mas gostava muito de
algumas polêmicas que eram possíveis ter com uns poucos alunos.
O Fernando Azevedo, a mando da Sílvia Kock, sem nenhum
grande motivo, me mandou embora depois de 32 anos como professor.
Ódio eterno ao Fernando Azevedo e a Sílvia Koch.
Na Marca Propaganda, que ajudei a se tornar uma grande
agência, o Eduardo Wilrrich Neto me mandou embora para agradar um cliente que
não simpatizava comigo.
Ódio eterno ao Eduardo Willrich Neto
Na MPM, o Beto Soares me mandou embora porque temia a minha
concorrência ao seu recém-criado cargo de diretor de criação.
Ódio eterno ao Beto Soares.
Agora entre o amigo virtual do Pintaúde.
Numa revista sobre propaganda eu escrevia umas histórias
fantasiosas sobre personagens imaginários e alguns reais e eu não ganhava um
tostão por isso
Sei que algumas pessoas gostavam, mas aí o Júio Ribeiro (o
atual amigo do Pintaúde) me mandou embora por alguma razão que nunca disse qual
era.
Ódio eterno ao Júlio Ribeiro.
Prometo me esforçar profundamente para deixar este meu ódio
como herança para quem quiser desfrutá-lo.
Só, por favor, não repetiam na minha despedida, aquela
baboseira cristã de que o ódio faz mal a quem odeia e que o importante é o
amar.
Amor e ódio, é tudo a mesma coisa.